Sobre

Sobre o projeto

O Sonário do Sertão é um acervo de sons gravados pelo interior do país em três territórios do Nordeste brasileiro onde camponeses e camponesas se articulam em movimentos do campo, especificamente o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). As três comunidades que participam do projeto são Várzea Nova (Jacobina, Bahia), Várzea Queimada (Caém, Bahia) e Bodocó (Pernambuco), todas três no semiárido brasileiro.

O projeto Biblioteca de Sons do Sertão foi realizado em três etapas. Num primeiro momento, a realizadora de audiovisual e desenhista de som Camila Machado ministrou oficinas de captação de áudio para crianças e adolescentes da região. Posteriormente, os sons captados foram trabalhados em uma oficina de edição de som e foram criadas instalações artísticas que envolveram toda a comunidade. Por fim, houve uma residência artístico-sonora, inspirada pela pesquisa de sons durante os outros momentos, onde a colheita de sons terminou de ser feita. Este site é a etapa final e o resultado desse processo chamado de Sonário do Sertão.

Camila Machado

Desenhista de som e técnica de som, formada em Comunicação Social – Cinema pela Universidade de Brasília e especialista em Som pela Escuela Internacional de Cine y Televisión de Sán Antonio de los Baños – Cuba. Desde 2009, trabalha como facilitadora em oficinas de audiovisual em comunidades indígenas, pelo Vídeo nas Aldeias, e rurais, por diversos movimentos que compõem a Via Campesina.

O surgimento do projeto

O Sonário do Sertão surge após o trabalho que Camila Machado vem fazendo nos últimos anos com oficinas de audiovisual em assentamentos, acampamentos e pequenas propriedades vinculadas à Via Campesina. Durante a realização dessas oficinas se deparou com maneiras muito diversas de escuta e produção de sons. A semente do projeto surgiu em diversas situações de oficinas nas quais a experiência sonora chamava a atenção e mostrava sua força.

Uma vez, por exemplo, em uma oficina desenvolvida em território Ashaninka no Acre, na aldeia Apiwtxa, quando se falava de percepção sonora, dos sons ao seu redor, os indígenas que participavam da oficina a levaram para andar no meio da mata para que pudessem nos relatar como eles vivenciavam a experiência sonora. Lá eles contaram que, na floresta, os olhos somente nos enganam! Que tudo em volta é só verde e marrom e que os bichos realmente perigosos se utilizam do nosso torpor no meio da mata para atacarem. “Na floresta a gente é guiado pelos ouvidos. Aí, sim, percebemos que a onça se aproxima, que a mata fez silêncio com medo de algo e que é hora de se defender”, dizia Tsirotsi Ashaninka.
Outra vez, num assentamento, foi fazer som direto para um projeto do setor saúde do MST sobre práticas tradicionais de saúde. Lá conheceu Larinha, uma criança de 8 anos que, ao ver a técnica de som com o boom gravando sons, a agarrou pela mão e a levou para conhecer os sons preferidos dela. Começou mostrando o som do milho crioulo – não transgênico – sendo acariciado. A partir daí, Camila Machado iniciou o projeto Sonário do Sertão para voltar ao campo e registrar essas experiências sonoras.

Realização, Parcerias, Participação e Apoio

A principal parceria do projeto é com o Movimento dos Pequenos Agricultores, através do Coletivo de Comunicação do Movimento. A oficina de escuta e captação de sons foi realizada com jovens de comunidades do sertão, porém houve também intensa participação de crianças e anciãos. A partir da definição de que sons colher, toda comunidade pode participar e ajudar: sambadores no sertão baiano, camponesas na panha do feijão em Pernambuco, vaqueiros aboiando e crianças imitando a variedade de pássaros da região.

O Projeto é realizado pela produtora de audiovisual Trotoar.

O Sonário do Sertão tem apoio do Itaú Cultural por meio do edital Rumos 2015-2016.